27/08 - Feliz dia aos amigos e colegas de profissão

Essa é uma foto do meu cantinho: desde março que não vou pra lá. Sinto muita falta dele. Escrevo um texto neste dia que para mim é muito especial: me relembra uma transformação no meu modo de ver as coisas e viver a vida. Um pouco dessa prática que, como disse sabiamente um mestre, é permeada de céus e infernos:

“E não basta termos sentido uma única vez o chamado da vocação; o direito de praticarmos esta profissão precisa ser repetidamente conquistado dentro de nós.”

(Von Franz, Psicoterapia, p. 306)

Gosto muito deste trecho do livro Psicoterapia da Von Franz – analista junguiana da 1ª geração: ela reforça o quanto é importante irmos conquistando, durante a nossa jornada da vida, o “chamado”, a vocação (vocatio), que, para nós que trabalhamos com a alma humana tem uma conotação especial: um chamado sagrado. Trabalhamos com vidas e isso requer muito empenho não só com as pessoas que atendemos, mas com nós mesmos. Não é só “ok, ouvi meu chamado e agora o seguirei”: é necessário que o cuidado com a própria alma seja constante. Se eu parar de querer me desenvolver como pessoa, se eu parar minha terapia, se eu parar de investigar meus próprios sonhos – que dizem respeito à dinâmicas internas minhas –, se eu parar minhas atividades criativas – é através delas que eu entro em contato com os símbolos e imagens internas que se manifestam –, se eu não quiser olhar para os meus aspectos mais sombrios e achar que “sou bom o suficiente” para dar conta dos casos que vem até mim, é muito provável que eu acabe me deteriorando como pessoa e terapeuta no meu próprio orgulho e cause danos às pessoas ao invés de ajudá-las. É um caminho difícil (às vezes difícil até demais, confesso rs), mas que no final, quando faço uma revisão da minha trajetória, me dá satisfação e vontade de aprender mais e mais.

Neste livro também, a Von Franz dá uma grande importância ao contato dos terapeutas com as atividades criativas: relembrando que os antigos xamãs e curandeiros também eram os poetas, pintores, músicos e artistas de suas sociedades.

Tratando-se dessa conquista diária:

“A vida tem de ser conquistada sempre e de novo.”

(Jung, A natureza da psique, para. 142)

No sentido original, psicoterapeuta vem das palavras gregas psykhe (alma) e therapeuein (servir, cuidar). Que esse dia possa renovar nossas baterias para as mais diversas jornadas às quais somos (re)convocad@s.

Um abraço aos amigos e colegas de profissão,