Por uma visão mais psicológica da inveja
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por Julio Ito
Psicólogo (CRP 06/130191)

Introdução

A inveja machuca muito a pessoa que é possuída por ela. Eu digo “possuída”, pois não temos um controle consciente sobre eventos da ordem da alma, do irracional. Quando eles aparecem, eles simplesmente aparecem.

A inveja gera um sentimento duplo: ao mesmo tempo que tenho ódio também me sinto angustiado. Sabemos que todos esses afetos como ódio, a raiva, a tristeza, foram considerados por séculos como uma forma de “pecado” na nossa cultura cristã que reverbera suas influências até os dias de hoje no nosso psiquismo ocidental.

Vamos então tentar ver a inveja de uma forma mais psicológica e menos moralizante.

Uma visão psicológica da inveja

Se estamos clamando por uma visão mais psicológica da inveja, é importante começarmos sabendo que a inveja é um tipo de “evento psíquico” que é universal e natural: todos passamos por experiências de inveja ao longo da vida.

Agora imagina aqui comigo: eu só posso invejar aquilo que eu não tenho, aquilo que me falta. Então, numa instância mais profunda do psiquismo, a inveja vai atiçar, vai provocar em mim a lembrança de algo que eu gostaria de ter, mas não tenho. Ou algo que eu gostaria de ser, mas não sou. A inveja então me faz lembrar daquilo que eu não tenho, mas que gostaria de ter e essa lembrança vai cutucar as minhas feridas reativando uma sensação muito dolorosa. Nesse sentido, a inveja pode nos ajudar e muito.

Inveja inconsciente: destrutiva

Agora, quando inconsciente, ou seja, reprimida ou negada, a inveja pode começar a se diluir na sua fala ou ações através de pequenas e “inofensivas” críticas em relação à pessoa ou objeto invejado. Ela é sorrateira e acaba tendo como finalidade, quando inconsciente, destruir silenciosamente a pessoa ou objeto invejado para assim, nivelar o invejado ao invejoso.

Você já passou por isso? “Invejoso eu? Não, não inveja não!!”. Hahaha

Na inconsciência dos processos que circulam em nosso mundo interno, a psicologia profunda já provou que sempre perdemos a possibilidade de uma ampliação da consciência e nos empobrecemos psiquicamente.

Conscientizar-se deste estado invejoso e natural é o primeiro passo. Depois de conscientizada, assumida a inveja, vem a questão: o que você quer fazer com isso?

O problema é que nossa sociedade não consegue vislumbrar um sofrimento como uma possível forma de ajuda. Nós, mimados que somos, só acreditamos que uma ajuda pode vir através de uma sensação prazerosa... triste!

Espero que este texto possa contribuir de alguma forma para a sua vida.

Vídeo sobre o texto:
https://youtu.be/2B36jMcrM_0?si=J4ydG1fR8fRHu-Q0

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JULIO ITO
Psicólogo (CRP 06/130191), psicoterapeuta junguiano, músico, facilitador de workshops, pesquisador e professor convidado do curso de Pós-graduação em Teoria e Prática Junguiana do Instituto Solaris (RJ).

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