Vivemos numa sociedade onde uma resposta rápida para as crises e problemas complexos — ao mesmo tempo que é exigida — sugere segurança e credibilidade enquanto o "não saber" é intolerável. Em situações como essa em que uma discussão de um assunto difícil, complexo e ainda obscuro se instala, penso o contrário: aquele ou aquela que por vezes espera um pouco, pensa, reflete para responder uma pergunta complexa evoca bom senso. Afinal de contas, não lhe soa estranho uma pergunta considerada complexa ser respondida prontamente, sem hesitação, sem um único momento de reflexão? Lembre de um debate político: um dos candidatos mal terminou de fazer a pergunta e o outro já vai logo respondendo com a maior convicção do universo de que ele tem a solução para o tema — que nem foi completamente exposto. É preciso saber esperar.
Não estou me referindo às situações que precisam de uma resposta imediata ou daqueles momentos em que o não se manifestar seja uma poda da espontaneidade. O que questiono aqui são aqueles momentos em que não necessariamente precisamos dar uma resposta de imediato, mas mesmo assim insistimos em fornecê-la impulsiva e forçosamente sem considerar (com + sideral = com o céu e as estrelas, ou seja, fazer uma observação minuciosa, atenta e cuidadosa) uma série de elementos significativos.
É preciso ser rápido, rápido e mais rápido!
Queremos fazer tudo com rapidez, mas perdemos fluidez e significado. Vivemos uma vida conflituosa onde o não decidir não entra como uma terceira opção, mesmo que "temporária". Às vezes queremos que as coisas aconteçam num tempo mais rápido do que a própria situação exige. O resultado? Atropelamento psíquico, atropelamento da alma.
Jung entendia que as pessoas só podem percorrer uma certa distância com vistas a resolver ativamente seus problemas. Pode haver um momento em que a ação é inútil, ou mesmo destrutiva, e que o melhor a fazer é não fazer nada, esperar (Colegrave, 1997, p. 121).
Já ouviu falar na expressão "separar o joio do trigo"? O joio é considerado uma erva daninha e por isso ele pode vir a prejudicar toda a plantação caso não seja devidamente removido. O problema é que o joio surge repentinamente no meio da plantação do trigo e essas duas plantas são praticamente idênticas no seu estágio inicial. Como não é possível diferenciá-las neste começo de germinação, é grande a probabilidade de removermos o trigo. Ou seja, não é possível separar devidamente o joio do trigo sem uma virtude essencial: a paciência. É preciso saber esperar, dar tempo para que as duas plantas possam crescer e com isso se diferenciarem, o que tornará possível assim a separação dos dois. Nem sempre ficar "em cima do muro" é ruim: realmente às vezes não dá pra tomar nenhuma decisão sem antes darmos tempo para as coisas fluírem.
Um conto: o fazedor de chuvas
Existe um conto chamado "Fazedor de Chuvas" e acredito que ele ilustre o tema abordado:
Há tempos não chovia numa aldeia chinesa cuja sobrevivência dependia do plantio. Os moradores de lá tentaram desenvolver novas tecnologias para forçar chuva, recorreram aos xamãs e aos rituais de sacrifício, mas nada da chuva vir. Fizeram de tudo. Um dos aldeões então lembrou de um tal "fazedor de chuvas" que estava em outra província e pediu para que este viesse em auxílio da aldeia.
Chegando na seca aldeia, todos vieram perguntar o que o fazedor de chuvas precisaria para que chovesse. Ele respondeu: "Nada... na verdade, preciso de uma cabana para ficar sozinho e de três dias". Os aldeões surpresos perguntaram: "Só isso?". "Sim", respondeu o velho. Três dias se passaram e, no quarto dia, choveu.
Todos os aldeões foram felizes da vida em direção ao fazedor de chuvas para lhe agradecer e perguntaram: "O que você fez?". O fazedor de chuvas respondeu que não havia feito nada. Explicou que quando chegara na aldeia, havia percebido que as coisas estavam desordenadas e que a conduta dos aldeões estava sendo forçosa para com o TAO. Então, fazendo um exame desta totalidade, ele entendeu que a aldeia estava precisando de uma influência de outra natureza para voltar ao equilíbrio: fazer nada. Por três dias ele não fez nada e assim abriu espaço para que a chuva viesse.
Enfim, algumas coisas não podem ser forçadas. É preciso primeiro entrar em equilíbrio e permitir que elas aconteçam.
Espero que esse texto contribua de alguma forma para a sua vida. Um abraço e até a próxima,
Julio Ito
Psicólogo Clínico (CRP 06/130191)
Referência
Colegrave, S. (1997). Um estudo junguiano e taoísta dos princípios masculino e feminino na consciência humana. SP, São Paulo: Cultrix.
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