Primeiramente: o que é um viés? Viés é uma tendência a perceber as coisas através de um ponto de vista pré-determinado. Logo, o viés da negatividade (ou viés negativo) é a tendência a perceber ou dar ênfase aos acontecimentos negativos do cotidiano.
Esse achado da Psicologia observa que os eventos negativos atraem muito mais a atenção das pessoas do que os positivos. E por que? Bem, segundo Fredrickson (2003):
As emoções negativas têm um valor adaptativo intuitivamente óbvio: em um instante, elas restringem nossos repertórios de ação de pensamento para aqueles que melhor promoveram a sobrevivência de nossos ancestrais em situações ameaçadoras de vida. Deste ponto de vista, as emoções negativas são soluções eficientes para problemas recorrentes que nossos antepassados enfrentaram. (p. 332, tradução minha)
Podemos então dizer que o viés da negatividade funciona como um mecanismo automático de preservação da vida, pois ao nos atentarmos ao negativo, espera-se que nos afastemos e fiquemos mais alertas às situações que podem comprometer as nossas vidas (reparem como a mídia entende bem esse mecanismo e nos bombardeia com notícias negativas para "prender" a nossa atenção). Perceba: estar consciente do viés da negatividade não irá impedir que eventos negativos aconteçam, nem fará com que estes se resolvam magicamente. Estar consciente deste viés nos traz a possibilidade de conscientizar o seu oposto também, uma vez que este último tende a desaparecer da consciência — torna-se inconsciente — na presença do primeiro.
O viés da positividade — se pensarmos em pares de opostos e assim pudermos nomeá-lo — tem a sua importância e deve ser utilizado. Não como uma forma de “esquecer os problemas” ou “fugir da realidade”, mas indo além disso, como um meio de busca para a “totalização” da nossa percepção que, como vimos aqui, tende a uma inclinação negativa e falha. Como já sabemos que, devido às questões evolutivas, temos essa tendência de atribuir um maior peso para as “desgraças da vida”, por que não reconhecer também que acontecem coisas boas e, a partir daí, nutrí-las? Muito cuidado para não cair no eterno abismo da negatividade.
Seria exagero dizermos que existe então uma luta psíquica contra a nossa própria natureza? Nesta perspectiva, se quisermos maior qualidade de vida, observo que seja inevitável uma jornada contra naturam — como Jung ressaltara inúmeras vezes no decorrer de sua obra — em busca do aperfeiçoamento pessoal e coletivo.
Talvez você obtenha um pouco de conhecimento com esse texto — o que não implica em ampliação da consciência, pois se você não fizer nada com o conhecimento, nada mudará. O conhecimento se torna ferramenta de transformação quando estiver acompanhado da ação.
Espero que esse texto contribua de alguma forma para a sua vida. Um abraço e até a próxima.
(Foto por Julio C. N. Ito)
Referência Fredrickson, B. (2003). The value of positive emotions: The emerging science of positive psychology is coming to understand why it’s good to feel good. American Scientist, 91, 330-335
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