Por parte de quem nunca passou por um processo psicoterapêutico, percebo que são grandes os questionamentos e desconfianças acerca da eficácia da psicoterapia no geral. Visando lançar um pouco de luz a respeito da psicoterapia junguiana - que é o campo onde atuo - e tornar mais acessível as informações sobre os estudos acadêmicos para a população em geral, decidi extrair algumas informações do seguinte artigo científico publicado em Dez/2013 na revista "Behavioral Sciences" pelo psicólogo clínico Christian Roesler: Evidence for the Effectiveness of Jungian Psychotherapy: A Review of Empirical Studies (Evidências da Eficácia da Psicoterapia Junguiana: Uma Revisão de Estudos Empíricos). A psicoterapia junguiana funciona mesmo?
Alguns resultados
Bem, logo no resumo do artigo, já podemos observar alguns resultados do estudo:
“Todos os estudos mostram melhorias significativas não apenas no nível dos sintomas e problemas interpessoais, mas também no nível da estrutura da personalidade e na conduta cotidiana. Essas melhorias permaneceram estáveis após a conclusão da terapia por um período de até seis anos. Vários estudos mostram melhorias posteriores após o término da terapia, um efeito que a psicanálise sempre afirmou. Os dados do seguro saúde mostram que, após a terapia junguiana, os pacientes reduzem a utilização dos serviços de saúde a um nível abaixo da média da população total. Os resultados de vários estudos mostram que o tratamento junguiano leva os pacientes de um nível de sintomas severos a um nível em que se pode falar de saúde psicológica. Essas mudanças significativas são alcançadas pela terapia junguiana com uma média de 90 sessões, o que torna a psicoterapia junguiana um método efetivo e econômico. Os estudos de processo apóiam teorias junguianas sobre psicodinâmica e elementos de mudança no processo terapêutico. Então, finalmente, a psicoterapia junguiana chegou ao ponto em que pode ser chamada de um método eficaz e comprovado empiricamente.” (Roesler, 2013, tradução minha).
Bem, essas informações já seriam suficientes para finalizar o objetivo deste texto, porém, irei fornecer mais alguns detalhes sobre esse estudo. O artigo em questão se propôs a realizar uma revisão crítica e a resumir outros estudos realizados sobre a eficácia da psicoterapia junguiana, principalmente na Suíça e na Alemanha.
Alguns dados analisados: Estudo 1
1. Em um dos estudos, realizado na Universidade de Heidelberg, terapeutas junguianos e pacientes foram monitorados a partir do início do processo terapêutico, totalizando 37 casos. Destes, 57% sofriam de depressão e 47% foram diagnosticados com distúrbios de personalidade.
Duração média do tratamento psicoterápico: 35 meses com média de 90 sessões.
Pesquisadores, terapeutas e pacientes responderam à avaliações objetivas padronizadas e à auto avaliações para mensurar os resultados.
Resultados
- melhoras significativas na reestruturação da personalidade;
- mudanças positivas no dia a dia;
- redução significativa de problemas interpessoais;
- avaliação dos resultados positiva por parte dos pacientes (acima de 90%);
- custo-efetividade bom, muito bom ou máximo (80%) / satisfeito (20%);
- houveram entrevistas de follow up (acompanhamento após a finalização do processo) e alguns resultados positivos só apareceram após o término da terapia;
- os resultados se mantiveram estáveis após três anos.
Estudo 2
2. Outro estudo: conduzido pelo Instituto Junguiano de São Francisco baseando-se em quatro pontos de mensuração: início da terapia, término da terapia, acompanhamentos de 1 ano e 5 anos pós-terapia. Foram considerados um total de 39 pacientes em que somente uma parte destes completou as entrevistas de acompanhamento. Com isso, somente dados do início e do final da terapia puderam ser comparados. Mesmo diante destas limitações do estudo, houveram reduções significativas dos sintomas e melhora na qualidade de vida dos pacientes.
Estudo 3
3. Um grupo de Psicologia Analítica em Berlin realizou um estudo retrospectivo no início dos anos 90 onde ex-pacientes de psicoterapeutas junguianos foram convidados a responder questionários e entrevistas.
- De 353 casos documentados, 111 participaram da pesquisa;
Duração média do tratamento psicoterápico: 162 sessões com frequência de uma a duas sessões semanais;
Resultados
- Dos 60,4% dos pacientes que classificaram o próprio bem-estar como muito ruim antes da terapia, 86,6% classificaram seu bem-estar global como muito bom, bom ou moderado na entrevista de acompanhamento pós-término da terapia;
- Seis anos após o término do tratamento, 70% a 94% relataram melhoras boas ou muito boas nos seguintes aspectos:
- sofrimento psicológico;
- bem-estar global;
- satisfação de vida;
- performance no trabalho;
- relações amorosas e familiares;
- relações sociais no geral;
- Os pacientes estavam em melhor situação do que qualquer um dos outros grupos clínicos com os quais compartilharam diagnósticos antes da terapia.
Conclusões
Há ainda outros estudos a serem citados dentro deste artigo que me propus a apresentar aqui, porém, acredito que vocês mesmos podem verificar no original caso queiram saber mais.
Uma última constatação que é importante destacar deste artigo é que, em todos os estudos em que foram realizadas as entrevistas de follow-up (acompanhamento), outras melhorias na vida dos pacientes foram encontradas após o término da terapia. Isto pode ser considerado uma evidência de que a psicoterapia junguiana não transforma somente os sintomas, mas também a estrutura de personalidade em um nível mais profundo.
Para quem quiser saber mais sobre o processo de psicoterapia, segue abaixo um outro texto que escrevi sobre o assunto:
Espero que esse texto contribua de alguma forma para a sua vida. Um abraço e até a próxima,
Julio Ito
Psicólogo Clínico (CRP 06/130191)
—
Referência
Roesler, Christian. (2013). Evidence for the Effectiveness of Jungian Psychotherapy: A Review of Empirical Studies. Behavioral sciences (Basel, Switzerland). 3. 562-75. 10.3390/bs3040562.
0 thoughts on “A psicoterapia junguiana funciona mesmo?”