Compor, escrever, criar. Atividades humanas necessárias para a movimentação da alma. Compreendi mais tarde que a psique já estava lá (assim como sempre esteve): dentro de cada verso escrito, dentro de cada página marcada por meus punhos, dentro de cada nota musical que eu, como um intermediário de algo (imagino as Musas, as deusas da música na mitologia grega; ou Benzaiten, a divindade xintoísta da música), executava no processo de composição musical.
Esta é uma composição que, ao mesmo tempo que expressa simbolicamente uma situação interna individual que ocorria na minha psique, também expressa uma situação pela qual muitas pessoas passaram, passam e passarão. Afinal, a arte não é assim? Geradora de símbolos resultantes de uma síntese entre o individual e o coletivo, o pessoal e o transpessoal.
"Do nada" meus dedos se posicionaram de tal maneira a formar acordes que eu jamais havia tocado - nem sabia o nome do bendito. E fui tocando... sentindo cada corda reverberar; dedilhando e ouvindo cada som daquele acorde; palhetando e, de repente, um ritmo pra esse acorde. É como se alguém estivesse tocando em meu lugar. Talvez fossem as musas agindo naquele momento, ou talvez meu daimon.
Para o gregos, o daimon é um companheiro da alma:
A alma de cada um de nós recebe um daimon único, antes de nascer, que escolhe uma imagem ou um padrão a ser vivido na terra. Esse companheiro da alma, o daimon, nos guia aqui. Na chegada, porém, esquecemos tudo o que aconteceu e achamos que chegamos vazios a este mundo. O daimon lembra do que está em sua imagem e pertence a seu padrão, e portanto o seu daimon é o portador de seu destino.
James Hillman, O código do ser
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