Lixo e terapia no Arpoador
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por Julio Ito
Psicólogo (CRP 06/130191)

Noto resquícios de humanidade nas cavidades destas pedras no Arpoador.

Cigarros, estilhaços de vidro, papéis, pedaços de plásticos, tampas de garrafas...

Quantas histórias essas pedras já presenciaram?

Dizem que o lixo material (e psíquico) pode vir a dizer muito sobre seu dono

A ideia é que se nos debruçarmos sobre eles, talvez eles nos contem algumas histórias ou, a partir deles, projetemos algumas histórias neles... de um modo ou de outro, torna-se um exercício investigativo da/na alma humana

Fico a imaginar quantas histórias essas pedras presenciaram

Quantas almas alegres vieram contemplar essa linda paisagem da pedra do Arpoador?

Levaram algumas cervejas, abriram-nas descartando as tampas aqui nas pedras mesmo; tomaram um gole, conversaram, tomaram outro gole, riram...

Quantas almas desesperadas recorreram a essa paisagem em momentos angustiantes?

Saíram de onde estavam, caminharam até o arpoador...

Aliás, nome este que significa “aquele que agarra, que puxa, que fisga”

Ótima palavra que já se auto-explica

Quantas pessoas, machucadas pela vida, foram até o Arpoador a procura de um alívio para suas feridas?

Fumaram um cigarro, miraram a paisagem, deram um suspiro e o coração de alguma maneira se acalmou

Ou ainda: quantas pessoas foram para lá, sem pretensão nenhuma, como este que vos fala, e entraram num estado paradoxal de questionamento-calmaria? No fim, fico com a impressão de que é um lugar contemplativo ou que favoreça uma postura de contemplação. Ao contemplarmos algo, ao mesmo tempo contemplamos a nós mesmos. Talvez seja esta a propriedade terapêutica deste lugar misterioso: o Arpoador que nos fisga, ao mesmo tempo, para dentro e fora de nós mesmos.

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JULIO ITO
Psicólogo (CRP 06/130191), psicoterapeuta junguiano, músico, facilitador de workshops, pesquisador e professor convidado do curso de Pós-graduação em Teoria e Prática Junguiana do Instituto Solaris (RJ).

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