Noto resquícios de humanidade nas cavidades destas pedras no Arpoador.
Cigarros, estilhaços de vidro, papéis, pedaços de plásticos, tampas de garrafas...
Quantas histórias essas pedras já presenciaram?
Dizem que o lixo material (e psíquico) pode vir a dizer muito sobre seu dono
A ideia é que se nos debruçarmos sobre eles, talvez eles nos contem algumas histórias ou, a partir deles, projetemos algumas histórias neles... de um modo ou de outro, torna-se um exercício investigativo da/na alma humana
Fico a imaginar quantas histórias essas pedras presenciaram
Quantas almas alegres vieram contemplar essa linda paisagem da pedra do Arpoador?
Levaram algumas cervejas, abriram-nas descartando as tampas aqui nas pedras mesmo; tomaram um gole, conversaram, tomaram outro gole, riram...
Quantas almas desesperadas recorreram a essa paisagem em momentos angustiantes?
Saíram de onde estavam, caminharam até o arpoador...
Aliás, nome este que significa “aquele que agarra, que puxa, que fisga”
Ótima palavra que já se auto-explica
Quantas pessoas, machucadas pela vida, foram até o Arpoador a procura de um alívio para suas feridas?
Fumaram um cigarro, miraram a paisagem, deram um suspiro e o coração de alguma maneira se acalmou
Ou ainda: quantas pessoas foram para lá, sem pretensão nenhuma, como este que vos fala, e entraram num estado paradoxal de questionamento-calmaria? No fim, fico com a impressão de que é um lugar contemplativo ou que favoreça uma postura de contemplação. Ao contemplarmos algo, ao mesmo tempo contemplamos a nós mesmos. Talvez seja esta a propriedade terapêutica deste lugar misterioso: o Arpoador que nos fisga, ao mesmo tempo, para dentro e fora de nós mesmos.